Diário de Bordo

Aqui ficará registado as aventuras e desventuras do meu percurso pelos mares das tecnologias... Foi com este objectivo que iniciei este diário. Hoje é mais do que um blog sobre o estudo das Tecnologias Educativas; é um registo do meu percurso de aprendizagem (de vida), onde as tecnologias continuam a ter importância. Sei que não o teria consigo manter se não fosse o seu formato digital; as interacções que aqui se estabelecem.

sábado, novembro 04, 2006

Porque são os momentos bons aqueles que realmente contam...

Lembras-te de quando chegavas do trabalho e eu corria até ti e perguntava se trazias sabonetes? Eu dessa não me lembro, mas contam-me. Lembro-me doutras.

Lembro-me das tardes de Inverno em que jogávamos às cartas na cozinha de baixo, enquanto ouvíamos a chuva decidida, que caía no telhado, e a lenha na lareira, que crepitava coloridamente ao mesmo tempo que nos aquecia. Eu trazia o baralho de cartas espanhol, aquele com bonecos, e tu dizias então vá lá, mas uma cartada…e passávamos ali horas a fio até que a mãe já arreliada voltava a chamar para a mesa. Não gostavas de perder, nem a feijões, mas às vezes ganhava-te. Não te mostravas muito aborrecido, mas querias sempre mais um jogo, para a desforra.

Lembro-me da vez em que te quis cortar o cabelo. A mãe não queria. Eu insisti e tu deixaste. Deixavas sempre. Cortei-te a orelha! Tu riste-te e eu chorei. Nunca te ouvi queixar.

Lembro-me de quando trazias os primeiros morangos da época da tua horta. Apanhava-los e se não tivesse mais onde os pôr, armazenava-os no bolso do casaco. Às vezes esquecias-te deles e ficavam todos esborrachados. A mãe ficava fula, mas tu não ligavas. Voltavas sempre a fazer o mesmo.

Depois veio a idade do armário. Fiquei mais distante. Arranjei amigos da minha idade e tu também. Jogavas às cartas com o tio A. Lembras-te como ficava arreliado quando tu lhe ganhavas vezes sem conta e como às vezes se chateavam por causa do jogo? Tu não ligavas muito. Acho que era isso que o perturbava ainda mais. Hoje ficou marafado, costumavas dizer, com um sorriso maroto nos lábios. Amanhã logo se põe bom, acrescentavas e não te ralavas mais com o assunto. Era a calma que te caracterizava. Nessa altura falávamos apenas. Conversas banais, espaçadas no tempo.

A vinda para Lisboa ajudou a essa distância. Quando voltava nas férias costumavas dizer-me para não estudar tanto, que fazia mal à cabeça e aos olhos. Eu sorria. Tu não argumentavas.

Depois fui para a Alemanha e nunca mais te vi. Quando voltei já não estavas. A cozinha continua lá, mas já ninguém usa a lareira e nem a chuva cai da mesma forma. A horta já não é a tua. Também já não há morangos a crescer nem ninguém que os traga no bolso.

Há ainda a lembrança de ti e de aquilo que foste para mim.

Com saudade…

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